Passando por perrengues lá em cima!

12/04/2018

A segurança da aviação não se discute, segue aquela velha máxima, "mais fácil morrer em um acidente de elevador do que em um acidente aéreo"...rs 

Tem até aquelas estatísticas malucas, que dizem que as chances de partir para o plano superior em algum desastre aéreo são de 1 em 1.500.000.000 ...e... 000 ... rsss ... e não duvide, o avião é sim, muito, MUITO seguro.

Mas apesar disso, problemas acontecem, alguns em solo e outros - e esses assustam mais -, lá em cima! Quem viaja constantemente de avião deve ter algumas histórias dessas para contar, algum perrengue enfrentado a bordo.

A maioria dos relatos diz respeito a turbulências severas. Uma outra boa parte deles refere-se à arremetidas e problemas que forçam o avião a retornar ou alternar a outro aeroporto. São casos e casos, alguns engraçados e outros realmente assustadores os quais, felizmente, tiveram final feliz (afinal as pessoas estão aí, vivinhas, para contar...rsss)

Comigo não foi diferente. Apesar de amar avião desde pequeno, já passei por poucas e boas com eles - embora, obviamente, a maioria das viagens tenha sido muito tranqüila. Mas trabalhei em companhia aérea, viajei bastante, então as chances de enfrentar algum problema são maiores para um passageiro como eu.

E vou contar alguns desses perrengues.

O primeiro susto que tive foi lá longe, nos anos 80. Em um trecho interno na Itália, de Turim a Roma, nosso DC-9 já começava a baixar altitude para o pouso que se aproximava. Algumas nuvens em volta, nada muito chamativo. Eram branquinhas, bonitas, mas daquelas bem cheias, sabe, tipo cumulus nimbus. Daquelas que dariam linda foto...rsss...mas passar no meio de uma dessas pode não ser tão lindo assim, e nós passamos.

Que nuvem bonitinha...mas melhor evitá-la...rssss

E então, chacoalhou muito? Não, até que não.

O problema foi outro...o jato simplesmente desabou no céu, perdemos nosso chão por alguns breves (para mim foram eternos) instantes. 

Sabe aquela sensação da descida na montanha russa? Pois é, foi bem assim, aquele vazio no estômago, frio na barriga. Além de totalmente inesperado (na montanha russa pelo menos você sabe que a decida está chegando..kkkk). 

O motivo? Depois o comandante explicou. Pegamos um vácuo, e dos grandes....o avião "despencou" por cerca de 150 metros! Uau! Quem já pegou um vácuo sabe do que estou falando, imagine um desses, gigantes!

Anos mais tarde, já trabalhando na Pioneira, comecei a voar muito a serviço...e a lazer também, aproveitando os descontos oferecidos a funcionários e seus familiares.

Em um desses deslocamentos, estávamos eu e minha equipe fazendo uma ação comercial no sul do país. Ao final do evento, embarcamos em Caxias do Sul rumo a Congonhas, em São Paulo. Tudo ótimo, tarde bonita, sol e céu azul, seria um voo tranqüilo. A bordo do jato da Embraer, apelidado pela Rio-Sul como "Jet Class", o tempo passou rápido e logo estávamos nos aproximando da capital paulista.

E quanto mais nos aproximávamos, mais e mais o tempo ia fechando. O céu, antes azul, ficou cinza, cheio de nuvens carregadas. Já havia passado por condições meteorológicas assim, adversas, inúmeras vezes, no problem! E então nosso pequeno Jet Class entra nas nuvens e começa a baixar altitude.

Meus amigos, o que foi aquilo!!!!

Fomos literalmente jogados de um lado para o outro, para cima e para baixo....todos os passageiros se entreolhavam, com aquele sorriso amarelo de "não vou mostrar que estou com medo"...hehehe....do lado de fora, tudo cinza escuro, às vezes preto....de repente, uma pequena abertura entre as nuvens e pude ver, rapidamente, outra aeronave circulando....certamente havia muitas outras na mesma situação, "presas" na tempestade e aguardando a liberação do aeroporto para pousar - estava fechado naquele momento.

Ficamos lá, sendo muito maltratados pelos efeitos da tormenta, por cerca de 10 a 15 minutos. Até que o Comandante veio ao microfone e informou que "tentaríamos" o pouso e, caso não tivéssemos sucesso, seguiríamos para um aeroporto alternativo. Hã? "Tentar o pouso"???? Acho melhor você conseguir...rssss...e conseguiu, para nosso alívio. Mas foi um drama, nunca tinha passado por algo parecido em matéria de temporal. Alguns passageiros a bordo chegaram a chorar, e eu, embora tivesse conseguido me manter mais calmo, compreendi eles perfeitamente.

Aliás, esse avião, o Jet Class, não me trouxe muita sorte.

Quando ele chegou à frota da Rio-Sul (subsidiária da Varig), os funcionários que trabalhavam em Congonhas foram convidados e conhecer o avião em voos curtos de demonstração. E fui um dos sortudos convidados. Feliz da vida lá fui eu, para o voo de exibição das 15h45.

Antigo anúncio da Rio-Sul anunciando a chegada do novo JetClass,
de fabricação brasileira (Embraer). Apesar de ser um ótimo avião,
não me trouxe muita sorte...kkkk

Eram voos de cerca de 25 minutos, o avião decolava de Congonhas, ia até a Baixada onde sobrevoava a cidade de Santos e voltava para Congonhas. E as turmas de funcionários iam se alternando ... e chegou a vez do meu grupo, e lá fomos nós.

Avião novinho (na época), bancos de couro ... turbina na traseira, o que faz dele um avião silencioso e muito potente na subida. Até então, ótimas impressões! Decolamos, fomos até Santos, o comandante baixou e fizemos um sobrevoo panorâmico sobre o litoral. Bonito, gostei!!! Acelerou, voltamos a subir e rumamos de volta a São Paulo. 

Sobrevoamos a metróploe e nos afastamos um pouco...e começamos a dar voltas...e voltas e mais voltas...o tempo foi passando, devíamos pousar por volta das 16h10...e já eram 16h20...16h30...16h40 e nada! Continuávamos rodando lá no alto, nada de explicação. Começamos a estranhar ... olhares desconfiados ... 16h50, 17h00 ... o tempo estava bom, não podia ter sido nada relacionado a isso. Mas então, porque não descíamos?

Por mais experiência que tenha, fiquei também apreensivo...17h10, 17h20....teríamos combustível suficiente? Que raios estaria acontecendo??? Começou um burburinho a bordo...a tensão subiu...17h30 e nada ainda, nem uma explicação, seguíamos voando em círculos. Até que, finalmente às 17h50, o dia já escurecendo, o comandante informou que iniciaríamos o pouso. E foi feito, com tranqüilidade, por volta das 18h10.

Um voo de 25 minutos demorou quase 02h30! Desembarcamos aliviados depois dessa agonia toda, ainda sem saber o motivo da demora. Não nos falaram ... mas dias depois descobri, mesmo que informalmente ... nosso avião tinha tido um problema no trem de pouso, o qual não estava baixando. E a tripulação ficou trabalhando aquele tempo todo para tentar solucionar, antes de partir para uma alternativa mais drástica - um pouso de emergência. E conseguiram, ainda bem! E então entendi a falta de comunicação a bordo, não quiseram nos alarmar ... pensando bem, foi melhor assim ... rssss

Um quarto perrengue que enfrentei, e dos bons, foi novamente em uma viagem a serviço. A Diretoria Comercial da Varig tinha realizado sua convenção de vendas em Manaus, no lindo Hotel Tropical (cuja rede pertencia também ao Grupo Varig). Tudo correu bem, o evento foi um sucesso, 3 dias de muito trabalho, hora de voltar para casa.

Como a prioridade para embarque era dada (e com razão) a passageiros pagantes, e o voo direto de Manaus para São Paulo estava lotado nós, funcionários baseados em SP, tivemos de embarcar em um voo para o Rio de Janeiro com escala em Brasília, e a partir da capital carioca, fazer conexão para São Paulo.

Sem problemas, voamos confortavelmente a bordo do gigante MD-11 até a primeira escala, em Brasília. Mas adivinha, o voo no trecho seguinte, Brasília-Rio, também lotou. E o funcionário aqui, teve de desembarcar. 

Conseguiram me encaixar em um voo que partiria em instantes da capital federal direto para Guarulhos. Uau, melhor ainda, vou chegar mais cedo em casa! Mas tinha um "problema". Este voo também estava cheio e perguntaram se eu me importava de ir na cabine do piloto ... hehehe ... imagina, eu? Maravilha, claro que aceito!!!!

E lá fui eu, correndo para não perder o voo, este feito em um Boeing 737-300. Me apresentei na porta da cabine e assumi o assento que fica logo atrás aos lugares do comandante e do co-piloto. Confesso, como entusiasta, estava feliz com a oportunidade de fazer um voo completo naquele lugar especial. 

O tempo estava bom, final da tarde. A tripulação finalizou os procedimentos de check e logo estávamos taxiando para decolar. E vou te dizer, quando o avião fez a volta e imbicou na pista de decolagem, o que vi à minha frente me fez vacilar .... uma enorme, imensa, gigantesca camada de nuvens pretas, carregadíssimas. Bem ali, à nossa frente, nos aguardando.

Tive vontade de perguntar ao piloto se faríamos algum desvio logo após a decolagem, mas não quis atrapalhar. E nem precisei, logo que subimos, obtive a resposta. E infelizmente, a resposta que não queria ouvir...rs. 

O co-piloto perguntou ao comandante, "vamos em frente?" Em frente queria dizer, na rota direta para São Paulo, mas também a rota da tempestade. E a resposta, que escutei com frio na barriga. "Sim, vamos aproveitar e lavar o avião" ... rssss ...sério? Pensei. Deixa para lavar lá em Guarulhos...rsss

Comandante, não quer desviar mesmo? rsssss

Mas como quem manda é o comandante, nosso 737 rumou firme e forte em direção ao preto das nuvens. E entrou! Não sei se algum de vocês já teve a experiência de voar na cabine, ainda mais em uma tempestade. É assustador ... rsss .... você tem uma visão mais ampla do temporal e vê raios por todos os lados. O pára-raios do avião lança feixes de luz roxa na janela da cabine que, em contraste com o preto das nuvens, torna o cenário ainda mais macabro. E o barulho da chuva! Sim, parece que você está em um carro, você escuta as pedras do granizo baterem no teto, um barulho alto que se sobressai ao das turbinas em ação.

Notei pela expressão dos tripulantes que a coisa era feia. Eles estavam super atentos a tudo, trabalhando incansavelmente (normalmente, em voos tranquilos, eles apenas monitoram os instrumentos). Pelo rádio do avião ouvia a todo instante outras aeronaves reportando problemas com o clima pesado, algumas pedindo para mudar de nível (altitude) ou desviar a rota. O nosso Boeing também solicitou mudança de altitude, mas teve o pedido negado. Seguimos, portanto, dentro do "furacão", sendo jogados para tudo que é lado. Ruim para nós, na cabine, pior para os passageiros, lá atrás (onde os efeitos do balanço são bem maiores). O serviço de bordo, claro, foi suspenso e os comissários com ordem de ficarem sentados e afivelados aos seus assentos.

"Apanhamos" de São Pedro por cerca de uma hora. De repente, já na aproximação de Guarulhos, o tempo abriu e fizemos um pouso suave. Assim que o avião estacionou no terminal, a comissária abriu a porta e disse que quase todos os passageiros tinham passado mal durante o voo, incluindo a Hebe Camargo, que viajava na cabine da Classe Executiva. Com a porta da cabine aberta, pude observar a comissária se despedindo dos passageiros na saída ... e era um tal de "está melhor?", "desculpe, já passou", "que susto hein?" hehehe

Já passei por outras situações um pouco menos estressantes, como algumas arremetidas no pouso (o que, diga-se de passagem, é um procedimento normal e que visa a segurança) e até uma arremetida na decolagem de um CRJ-900 da antiga Pluna, empresa aérea uruguaia. Mas nada muito além disso, nada de fogo na turbina, máscaras de oxigênio, pouso de emergência e etc....ainda bem...rsss. E você, já passou por alguma situação parecida?

Se depois desses episódios passei a ter medo de voar? Não, sigo gostando (e confiando) muito. Mas se perguntar se quero passar por alguma delas de novo, aí me desculpe, a resposta é não, claro...rssss

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